sábado, 17 de abril de 2010

Matéria - Bauru estará em biografia espírita

Publicada em 17/04/2010, no Jornal da Cidade, de Bauru

Livro e documentário sobre Jésus Gonçalves, líder espiritual que viveu na cidade, já começaram a ser produzidos

Luciana La Fortezza/ Com Redação

Quem é espírita certamente já ouviu falar em Jésus Gonçalves. Quem não o conhece terá a chance de ter contato com a história de um líder (também espírita), cuja trajetória inclui Bauru. Aos 27 anos, ele foi internado no asilo-colônia Aimorés, onde atualmente funciona o Instituto Lauro de Souza Lima. Antes, no entanto, estudou no Colégio São José, trabalhou na prefeitura e participou da Jazz Band de Bauru. Sua biografia constará em livro e documentário, que começam a ser elaborados.

A iniciativa é do economista e psicólogo carioca Ubirajara Frontin de Oliveira, que esteve em Bauru durante o feriado da Páscoa para conhecer detalhes da vida de Jésus Gonçalves - líder espiritual do centro espírita dirigido por ele há 16 anos. Um ano e meio depois de Ubirajara passar a estudar o Livro dos Espíritos (Bíblia dos espíritas) com pessoas que se achegavam sem explicação, ele esteve com Chico Xavier, em Uberaba, a quem perguntou quem seria o espírito que conduziria os trabalhos no centro que acabara de se formar.

“Ele falou Jésus Gonçalves. Eu nem sabia quem era”, conta Ubirajara. ‘Fez por fazer’ a pergunta a Chico Xavier porque nem acreditava que a nova casa precisasse de um mentor. “Mas estava todo mundo cobrando”, admite. Após a indicação, o economista foi procurar saber de quem se tratava. Coincidência ou não, buscou informações justamente com um líder espírita, também hanseniano, que vivia no Hospital Colônia de Curupaiti, no Rio de Janeiro.

“Ele puxou da estante o livro ‘A extraordinária vida de Jésus Gonçalves’, de Ronaldo Monteiro de Carvalho. Fiquei deslumbrado”, comenta. Em 1.500 anos de trajetória, antes de encarnar como Jésus, ele foi Alarico, o Grande, general maior dos Visigodos. Esmagou Roma no início do século 5. Também foi o poderoso Cardeal Richelieu. Investido de grande poder, defendeu o absolutismo real e foi, por 18 anos, o homem mais poderoso da França, como primeiro-ministro, informa Ubirajara.

Etapas

“Ele teve várias reencarnações. Essas três são as mais significativas. Reencarnou várias vezes como hanseniano. Tem que expirar (de alguma maneira pagar o mal que fez - como matar em Roma ou mandar matar na França). Vivemos num mundo e expiações e provas. Depois, temos que reparar (fazer coisas boas). Temos de passar por essas três etapas (arrepender, expiar e reparar) porque estamos fadados à perfeição”, explica Ubirajara. Apaixonado pela trajetória de Jésus, ele sempre nutriu a vontade de escrever um livro e fazer um documentário sobre o mentor de seu centro.

Um dia, recebeu um e-mail de Jaime Prado, funcionário do Lauro de Souza Lima. “Ele disse que tinha a história de Aimorés com 7.800 fotos e uma delas de Jésus. Disse que conhecia a filha dele, que morava em Bauru. Era tudo o que a gente estava perseguindo. Começamos a trocar correspondências. Já gravamos, já filmamos, já escrevemos”, comenta Ubirajara. De acordo com ele, a ideia é registrar não apenas a trajetória do líder espírita, como também de Aimorés e a do centro situado no Rio de Jeneiro que leva o nome dele.

“Se é para divulgar a doutrina dos espíritos, se é para divulgar esse trabalho de Jésus, conte comigo. Se tudo isso vai acontecer (livro e documentário), só Deus sabe. Só sei que não tínhamos um tostão e hoje temos um patrimônio de R$ 1,5 milhão (valor do centro). São 150 voluntários trabalhando comigo. As coisas estão acontecendo e estou indo. Vou até onde Deus permitir que eu vá”, conclui Ubirajara.

A história de Jésus Gonçalves

Jésus Gonçalves nasceu no dia 12 de julho do ano de 1902, em Borebi. A maior parte de sua infância, passa em Agudos. Aos 17 anos muda-se para Bauru, onde freqüenta o Colégio São José, mas não consegue o diploma do ginásio. Trabalha como tesoureiro da Prefeitura. Com seus 20 anos, casa-se com Theodomira de Oliveira, viúva com duas filhas. Oito anos depois, em 1930, ela desencarna por causa de uma tuberculose e o deixa sozinho, cuidando de seis filhos - tiveram juntos outros quatro.

“Uma vizinha dele fica com muita pena e pergunta se gostaria que ela cuidasse dos filhos dele. Eles se apaixonam e casam”, explica Ubirajara Frontin de Oliveira. Com 27 anos, Jésus vai ao médico e a hanseníase é diagnosticada. Ele tenta se isolar num sítio, mas uma ambulância o leva a Aimorés, onde provocou uma revolução. Fundou a Jazz Band, montou equipe de futebol, jornal, grupo de teatro, de bale e rádio. Era um líder absoluto.

Segundo Ubirajara, ele queria abrir os hospitais colônias, fazer com que os hansenianos tivessem uma vida normal. Lançou esse movimento por meio das artes. Foi internado em Aimorés com o filho mais velho (também hanseniano) e com Anita, que deu um jeito de acompanhá-lo. Os outros cinco filhos foram distribuídos a parentes, inclusive Jandira - que mora em Bauru e recebeu Ubirajara em sua casa no feriado de Páscoa.

Com muitas dores, Jésus solicita transferência de Aimorés para uma colônia onde pudesse contar com recursos médicos avançados. “Mas como era líder e recebia muitas doações, a diretoria de Aimorés rasgava as cartas que ele enviava para Bauru. Pediu, então, que o filho dele pulasse o muro do asilo e ligasse para cá”, conta Ubirajara. Foi então transferido para a Colônia de Pirapitinguí, próxima a Itu.

Anita foi junto e desencarnou. Até então, Jésus era ateu. Mas sua nora passou a vê-la e contatá-la. Numa das exteriorizações da moça, nem oito médicos conseguiram contê-la. Com imposição das mãos, sem tocá-la, um deles a desarmou. A partir de então, ele passou a estudar e a acreditar em Deus. Manteve vários contatos com Chico Xavier.

“Vejo Jésus Gonçalves um espírito altamente determinado. Teve determinação de conquistar Roma, de valorizar a França, de abrir os hospitais colônias”, conclui Ubirajara.

Centro no Rio de Janeiro

O Centro Jésus Gonçalves começou por acaso no Rio de Janeiro, conta Ubirajara Frontin de Oliveira. De acordo com ele, há 16 anos, quando seu pai desencarnou, doou uma casa, onde ele imaginava instalar uma clínica de psicologia. Começou, então, a levar o Livro dos Espíritos para ler. Quando se deu conta, já o estudava com um grupo grande de pessoas.

Atualmente, Ubirajara trabalha para a valorização espiritual no Brasil, nos Estados Unidos e Canadá. Ele conta que a terra sofrerá uma grande evolução espiritual por volta do ano 2050.

“Vão chegar espíritos com inteligência muito maior. Vão nos dar um empurrão”, diz. Bem antes disso, ele pretende erguer um prédio de cinco andares no terreno onde o Centro Jésus Gonçalves funciona hoje, no Rio de Janeiro. Humilde, o primeiro imóvel foi reparado. Depois, ampliado. Por fim, compraram dois terrenos ao lado para comportar as atividades realizadas.

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